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Artigos Médicos
Síndrome pós-covid
Publicada em 16/04/2021 às 12h15
Durante os 14 dias de plena atividade de sua virulência, o Sars-cov-2 costuma chegar aos pulmões produzindo a chamada tempestade de inflamação, comprometendo a capacidade respiratória, que, na sua forma mais grave, remete o paciente para o oxigênio, para o tubo, para a UTI.
A visita do vírus ao interior dos vasos sanguíneos vai promover microtromboses num pulmão, já devidamente comprometido, e a associação desses dois eventos tem alimentado com muita força as estatísticas de mortalidade pela covid-19.
Considerando que 14 dias é também o tempo do poder de transmissibilidade, teoricamente as consequências da infecção pelo Sars-cov-2 deveriam acabar em duas semanas.
Mas, não é bem assim!
A capacidade do coronavírus de passear com desenvoltura por quase todos os órgãos que compõem nossa estrutura orgânica deixa rastros patogênicos que vão produzir nos dias seguintes à fase aguda da infecção um conjunto de sintomas, interferindo muitas vezes na rotina laboral e social do paciente.
No sistema musculoesquelético, dores e fadiga muscular chegam juntas ao cansaço respiratório e se constituem nos sintomas mais prevalentes do período pós-atividade virulenta do Sars-cov-2. Acrescentando que os pequenos esforços costumam comprometer mais ainda a capacidade física e respiratória da pessoa, que já sofreu com a febre, a tosse, a dispneia, alterações do paladar e olfato, sinais clínicos característicos da fase aguda da covid-19.
Cefaleia, tontura, déficit de memória, confusão mental e dificuldade de concentração são alterações de fundo neuropsíquico e estão também inseridos no contexto da sintomatologia pós-covid. Para driblar a chamada barreira hematoencefálica - atua como um escudo protetor do Sistema Nervoso Central contra agentes nocivos -, os cientistas acreditam que o Sars-cov-2 está chegando ao SNC pelo corredor da mucosa nasal, explicando, inclusive, a manutenção de alterações do olfato durante vários dias (às vezes, semanas) após o período agudo.
Estudo desenvolvido nos EUA, México e Suécia, com 48 mil voluntários, constatou, além dos sinais clínicos já referidos, a ocorrência de AVCs, convulsões, delírios e psicose naqueles pacientes que haviam apresentado a forma mais grave da covid.
O desconforto do paciente pós-período infeccioso segue muitas vezes vinculado ao aparelho digestivo com diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal. No sistema urinário, sangramentos, perda de proteínas, e até insuficiência renal aguda, têm sido relatados por infectados que desenvolveram a forma leve, moderada ou grave da doença. Já o coração sofre com arritmias, miocardite e insuficiência cardíaca em alguns pacientes que já ultrapassaram os 14 dias do processo infeccioso.
Vale registrar, também, a ocorrência de urticárias e petéquias, além de eritemas disseminadas em áreas extensas da pele. No fígado, os rastros deixados pelo vírus são observados através do aumento importante das bilirrubinas e transaminases.
Uma das curiosidades dessa pandemia é a resistências das crianças ao Sars cov-2. Mesmo assim, as estatísticas mais recentes, essencialmente nessa segunda onda, têm demonstrado um aumento crescente de casos diagnosticados em segmentos etários mais jovens. Vale registrar, no entanto, que a sintomatologia apresentada por essas crianças foge um pouco daquele quadro clássico da covid observado nos adultos, conforme dados registrados pela universidade britânica Kings College.
Fadiga acentuada, cefaleia e febre foram os sintomas mais presentes. Dor de garganta, falta de apetite e erupção cutânea estavam também inseridos no rol do quadro clínico, sem grandes repercussões e sem riscos à vida do infectado.
No entanto, é de absoluta importância registrar que as autoridades sanitárias andam preocupadas mesmo é com a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, cuja sintomatologia bem mais agressiva tem despertado a atenção das entidades médicas de muitos países, essencialmente no Reino Unido.
Febre persistente durante 4 a 6 dias, diarreia, náuseas e vômitos são sinais clínicos muito presentes na evolução dessa síndrome.
O coração é o mais afetado: disfunção miocárdica, arritmias, pericardite, aneurisma de coronárias, hipotensão e choque cardiogênico. A doença renal aguda, com necessidade de hemodiálise, tem sido relatada.
No aparelho respiratório, a dispneia persistente promovendo desoxigenação do sangue, associada aos eventos cardíacos e vasculares, sobretudo a trombose localizada ou sistêmica, tem colocado em risco a sobrevida da criança e o endereço quase sempre é a UTI.
Um detalhe: toda essa “tempestade” de sintomas chega com mais frequência 30 dias após o período mais virulento da infecção.
Considerando ainda que a criança se constitui em vetor importante na alimentação da cadeia de transmissibilidade (carrega o vírus sem desenvolver a infecção), há de se convir que é absolutamente sensata a recomendação de que devemos inserir com mais rigor nossas crianças no contexto das recomendações indispensáveis ao controle efetivo da pandemia: higienização das mãos, uso de máscara e distanciamento social.
Sebastião de Oliveira Costa
CRM-PB: 1630
Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira