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Artigos Médicos
O fumante de fim de semana
Publicada em 09/03/2012 às 09h48
Passa a semana sem tocar em cigarro, mas na sexta-feira à noite, antes do primeiro gole de cerveja, já coloca um maço no bolso. No embalo do sábado e domingo, continua dando suas baforadas numa frequência muitas vezes maior do que o tabagista regular. Na segunda-feira, quer ver qualquer coisa na sua frente, menos um cigarro.
Em cada grupo de 100 bebedores sociais, 15 vão se tornar alcoolistas. No tabagismo, a situação é mais complexa: de cada 100 que experimentam o cigarro, 70 vão ter muita dificuldade para se desvencilhar da nicotina. Os fumantes de fim de semana, claro, estão inseridos entre os 30% que convivem com a nicotina sem se tornarem fumadores regulares. O hábito de fumar está intrinsecamente associado ao consumo de bebida alcoólica.
Como explicar isso?
Primeiro, vamos pegar o exemplo do negro americano, que começa a fumar mais cedo, tem um padrão de consumo bem acima das outras etnias e tem mais dificuldade para largar o cigarro (morrem mais de câncer de pulmão). No outro extremo, precisamos conhecer os "chipers", expressão inglesa que corresponde aqueles fumantes que, independentemente do tempo e do nível de consumo, jamais vão se tornar dependentes do cigarro. Fumam quanto tempo quiserem e largam quando bem entenderem, sem qualquer sacrifício.
Para entender melhor essa história, precisamos conhecer um gen com um nome esquisito - CYP2A6 -, que é o responsável em pisar no acelerador do metabolismo da nicotina que ocorre no fígado, determinando o grau de dependência. A velocidade desse metabolismo está vinculada ao perfil do gen. Quando homozigótico, o acelerador vai mais fundo e o tabagista vai fumar bem mais. Se heterozigótico, a lentidão do metabolismo vai deixar o fumante menos dependente.
O CYP2A6 do negro americano é homozigótico, nos "chipers" e fumante de fim de semana esse gen é heterozigótico.
A maioria dos que procuram nosso consultório para largar o cigarro são tabagistas de consumo médio (20 cigarros/dia). Em seguida, vêm os fumantes pesados, mas tem muita gente com um consumo de menos de 10 cigarros/dia que necessita de um suporte para conseguirem se livrar da nicotina. Em qualquer um desses casos, se o tratamento for bem conduzido (é importante sempre observar o perfil emocional), o percentual de sucesso é bastante estimulante.
O tabagista que só fuma nos fins de semana é convicto de que não é dependente, acredita que o cigarro não afeta sua saúde (a convergência de älcool e tabagismo produz muito carcinoma de boca e esôfago) e o álcool é o mais poderoso fator de recaída dentro de um processo de desintoxicação da nicotina. É muito complexo convencer (e fazer) um fumante de fim de semana largar o cigarro.
Sebastião de Oliveira Costa
CRM-PB: 1630
Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira