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Artigos Médicos
Entendendo a dependência tabágica
Publicada em 28/03/2025 às 11h34
O hábito de fumar não se resume ao prazer fugaz produzido pela ação dopamínica da nicotina. Ele é essencialmente um novo comportamento na rotina de vida da pessoa, que se deixou abraçar pelas garras de uma droga considerada a terceira mais viciante (só perde para a heroína e a cocaína) no ranking das 10 substâncias que mais produzem dependência.
Para melhor compreensão, deve-se informar que o tabagismo está atrelado a duas dependências:
1 - Física, de natureza biológica, que está vinculada aos sintomas da Síndrome de Abstinência da Nicotina, quando o tabagista tenta largar o cigarro.
2- Psicossocial, que está relacionada ao mecanismo de adaptação para lidar com situações como solidão, frustração, pressões sociais; a hábitos de comportamento com o fumar (no pós-cafezinho, refeições, álcool, fumar antes de dormir etc); às ansiedades, distonias e depressões; à ruptura da harmonia emocional, nas oscilações hormonais das mulheres e nos estresses do dia a dia.
Tratar o tabagismo, portanto, não se restringe apenas à redução da vontade de fumar por via medicamentosa. O sucesso de um programa de cessação de tabagismo deve observar a necessidade de estabilizar o fumante rompendo com sua dependência psicossocial, objetivo da abordagem cognitivo-comportamental, que pode ser desenvolvida com grupos de fumantes, conduzida preferencialmente por uma psicóloga (existem em várias unidades do SUS), ou pode ser desenvolvida individualmente no consultório do pneumologista.
As muitas frustrações do tratamento exclusivamente pela abordagem medicamentosa estão conectadas com a ausência de uma intervenção na dependência psicossocial. "O mais surpreendente foi a descoberta de que, dentro de uma rede social ampla, as pessoas deixam de fumar como grupo e não como indivíduo". Os cientistas James Fowler e Nicholas Cristakis da Escola de Medicina da Universidade de Harvard e da Universidade da Califórnia chegaram a essa conclusão após analisarem dados proporcionados por um estudo retrospectivo desenvolvido entre o ano de 1948 e 1971.
Outro estudo realizado por Vasquez&Becona concluiu que "em termos de estabilidade, 48% dos que participaram do tratamento através da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) permaneceram sem fumar após seis anos, enquanto apenas 28,8% do grupo controle continuaram abstêmios.
Há de se convir, portanto, que a estabilidade emocional promovida pela TCC, associada à abordagem medicamentosa, vai produzir uma taxa de sucesso bem mais elevada em qualquer projeto de cessação do tabagismo.
Dentro desse contexto, deve-se informar que esse raciocínio está relacionado a todo dependente da nicotina: aos que seguem utilizando o cigarro convencional (CC) e aos jovens que estão sendo atraídos pelo modismo do cigarro eletrônico, com imensas repercussões nocivas no aparelho cardiovascular e muito mais viciante por apresentar uma concentração de nicotina bem mais elevada do que o CC.
Outro aspecto que deve ser observado no tratamento de um tabagista é o estágio de motivação
1 - Pré-contemplação: O fumante prefere seguir inalando as mais de 60 substâncias cancerígenas contidas na fumaça do cigarro.
2 – Contemplação: O tabagista está num momento de reflexão e planejamento para largar o cigarro.
3 – Ação: O fumante decidiu se desvencilhar da dependência nicotínica e, sem a devida “força de vontade”, procura o consultório do especialista ou o sistema de saúde para conseguir a maior conquista de sua vida: parar de jogar no seu organismo 7 mil substâncias, prevenindo o desenvolvimento de 56 patologias.
Há de se deduzir, portanto, que largar o cigarro passa, antes de tudo, pela conscientização do dependente, sua decisão de melhorar a qualidade de vida e, claro, prorrogar sua convivência saudável ao lado dos amigos, desfrutando por muito mais tempo os afagos carinhosos da família.

Sebastião de Oliveira Costa
CRM-PB: 1630
Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira