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Artigos Médicos
Algumas considerações sobre os programas contra o Tabagismo
Publicada em 29/05/2023 às 14h
Muitas palmas para a competência de nossos programas de combate ao tabagismo, de elevado reconhecimento fora do país. Mas, há de se refletir que 'esquecemos' de trabalhar mais efetivamente dois segmentos com repercussões que comprometeram uma redução mais consistente das estatísticas do tabagismo no Brasil. São eles: os adultos que habitam a base da pirâmide social - relacionadas ao cigarro convencional; e a galera mais jovem e que transita no topo da pirâmide, muito atraída pelo cigarro eletrônico.
Avaliações realizadas lá no início do Programa Nacional de Combate ao Tabagismo (1986/1987) indicavam 34% dos adultos brasileiros nicotínico-dependentes. Já a pesquisa Vigitel-MS, mais recente, aponta um índice de 9,1% dos adultos que seguem se intoxicando com as substâncias nocivas do cigarro. A maioria absoluta, conforme já referido, inserida nas classes D e E.
Drª Tânia Cavalcante, ex-coordenadora da Coniq (Comissão Nacional para Implantação da Convenção-Quadro - OMS), defende que: "A associação entre pobreza e fumo é uma das relações mais consolidadas no conhecimento do tabagismo. Essas pessoas têm menos acesso às informações sobre tabagismo". Nessa mesma linha de raciocínio, estudo desenvolvido pelo sociólogo Ricardo Antunes conclui que "pessoas de classe social com menos escolaridade fumam mais e vivem em média 10 anos menos do que os ricos". É redundante acrescentar que os programas anti-tabaco, de perfil elitizados, precisam enxergar com mais sensibilidade e pragmatismo a realidade social do país.
Por outro lado, nesses 37 anos de combate ao tabagismo falamos quase exclusivamente para o adulto: câncer de pulmão, infarto, enfisema, impotência sexual... Há de se convir que jovem nenhum vai incorporar nas suas preocupações a probabilidade de desenvolver um câncer de pulmão, muito menos um enfisema. E o que dizer de impotência sexual? Falamos muito pouco de estética, condicionamento físico, desempenho esportivo. Resultado: a maioria absoluta dos novos fumantes estão inseridos no segmento etário de 12 a 18 anos de idade e é nesse vácuo que passeia com muita desenvoltura o cigarro eletrônico.
Dentro desse contexto é que o Comitê de Combate ao Tabagismo da Associação Médica da Paraíba (AMPB) tem pautado suas campanhas, amparadas na consciência de que aqueles dois segmentos precisam ser melhor trabalhados, quando se pretende avançar com mais efetividade no objetivo de interferir naquele resíduo de tabagistas.
Numa reflexão mais atenta, vai-se observar que o caminho mais curto para se chegar ao contingente social que habita a base da pirâmide é através da rede pública de educação. E foi nessa direção que o CCT-AMPB incorporou na programação de algumas campanhas anteriores seminários de sensibilização para coordenadores, supervisores e professores da rede municipal e estadual de ensino.
Ainda nessa direção, projetos de lei aprovados na Câmara Municipal-JP e na Assembleia Legislativa, recomendam que toda rede pública de ensino, nas datas alusivas ao combate ao tabagismo, desenvolvam atividades que estimulem a reflexão e discussão sobre as repercussões sociais e os aspectos nocivos do uso de cigarros.
E o que fazer para se chegar até os jovens usuários do cigarro eletrônico, que costumam frequentar os bancos escolares dos colégios particulares?
Quem mantêm uma proximidade, uma interrelação e uma ascendência intelectual com essa galera é obviamente os professores da rede privada de ensino.
Um seminário de sensibilização agendado para integrar a programação do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de Maio), pretende, juntamente com a distribuição 30 mil panfletos e 500 cartazes com mensagens objetivas, dá um pontapé inicial num projeto, que inclui a incorporação do sindicato dos estabelecimentos de ensino ao nosso Comitê de Tabagismo, com a devida intenção de promover uma relação mais interativa dos nossos programas com os professores, na convicção de que são eles, os agentes que vão colaborar no remodelamento da mentalidade de nossos jovens, atraídos pelo belo designer e os sabores diversificados de um vapor impregnado de muitas substâncias nocivas.
Há de se convir portanto, que nessa guerra contra o tabagismo, esse novo cenário exige um redirecionamento nas estratégias de ação mais compatíveis com o perfil da realidade atual.
Sebastião Costa - Pneumologista
CRM 1630
*ASSOCIAÇÃO MÉDICA DA PB
UNIMED-JP
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
SOCIEDADE PARAIBANA DE PNEUMOLOLOGIA
SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA - PB
SOCIEDADE PARAIBANA DE PEDIATRIA
PROCON
AGEVISA
GEAP
AFRAFREPFUNASA
Sebastião de Oliveira Costa
CRM-PB: 1630
Especialidade: Pneumologia e Alergologia. Dr. Sebastião é presidente do Comitê de Tabagismo da Associação Médica da Paraíba e membro da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira