Artigos Médicos
Da Vênus de Willendorf à mulher contemporânea
O mais antigo culto ao corpo da mulher data do período Paleolítico representado pela Vênus de Willendorf, hoje também conhecida como Mulher de Willendorf. A sua vulva, seios e barriga são extremamente volumosos, de onde se infere que tenha uma relação forte com o conceito da fertilidade.
Alguns estudiosos atuais não conseguem ver nesta figura, com características de "obesidade", a imagem clássica de uma Vênus. No entanto, mesmo a Vênus de Milo, que representa Afrodite, a deusa grega do amor sexual e beleza física, que varou os tempos como padrão de beleza, mostrava carnes sobrepujando ossos. Na Renascença e no período Barroco, as formas arredondadas, particularmente deste último período, eram também valorizadas na mulher cheia de carnes, sinuosa.
Hoje em dia, as mulheres estão tornando-se cada dia mais descarnadas. A magreza é tida como sinônimo de saúde enquanto o tipo barroco é depreciado e apontado como causador de doenças. No entanto, há confusão na defesa radical do padrão magro, pois a gordura subcutânea dos quadris, braços e pernas não tem nada a ver com os problemas cardiovasculares que causa a gordura tronco-abdominal, esta, representando um padrão andróide de distribuição de gordura corporal.
Bem! A mulher de Willendorf, com sua protusão abdominal, pode ser pouco saudável. Por outro lado, os exageros que certas mulheres atualmente cometem para atingir o padrão de beleza Twiggy, modelo magérrima da década de 60 e que hoje ainda continua se replicando, tampouco o é. Por perseguirem este modelo a todo custo, seja por "necessidade profissional" ou por influência da mídia, as mulheres podem entrar em um processo de obsessão por magreza, omitindo refeições, fazendo demasiado exercício, provocando vômitos para não absorverem o que ingeriram, ficando perigosamente desnutridas.
A profunda vulnerabilidade narcisista do período da puberdade e da adolescência feminina encontra uma ilusão de re-equilíbrio na fetichização da magreza que a cultura lhe oferece. Em qualquer que seja a natureza da ansiedade desencadeada - perda das referências de apego primárias, objetos da sexualidade, colapsos do Eu ideal "" é sempre possível a uma adolescente mulher apelar ao recurso do perfeccionismo corporal através da busca e manutenção da magreza como defesa narcisista universal de compensação oferecida pelos valores da cultura atual.
Daí a necessidade de corrigir os padrões e rever conceitos de beleza que se coadunem com a saúde do corpo e do espírito. (A Espanha, hoje em dia, só está aceitando modelos dentro do índice de massa corporal normal). A natureza do amor é imponderável, portanto não pesa nada... Buscar o amor, a admiração através do excesso de magreza não é o caminho. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra "" nem Vênus de Willendorf, nem as esquálidas modelos contemporâneas.

Rosália Gouveia Filizola
CRM-PB: 2399
Especialidade: Endocrinologista