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Artigos Médicos
Ano Novo: mais dúvidas que certezas?
Publicada em 27/12/2013 às 17h
Este é o período aparentemente mais feliz do ano, embora, a tirar pelo que observo, o Natal tenha perdido quase que completamente o seu significado cristão. Comparando a frequência às cerimônias nas igrejas com a quantidade de gente observada nos shoppings, as primeiras perdem feio, sugerindo a apologia do consumo que se instalou na sociedade de um modo avassalador. O Brasil, de norte a sul, compra e vende; é um mercado onde o espírito natalino original passa ao largo desse consumo desenfreado.
Talvez fosse necessário ir um pouco contra a corrente dessa felicidade que chamei de aparente por vê-la fundada no consumo e por acreditar que todos temos potencial para ir além do consumismo: olhar com atenção a si mesmo e o entorno podem levantar questionamentos que envolvem a mobilização individual para que promessas e propósitos tão frequentemente expressos nesta época se efetivem no ano vindouro e não se esvaiam no ralo do esquecimento logo nos primeiros dias.
Na Igreja Católica, o papa Francisco prenunciou algumas mudanças, embora não revolucionárias; no Brasil, as manifestações de rua geraram respostas do governo também não revolucionárias. Entretanto, abrir caminhos para a transformação, assim como sua cobrança, pode minorar desigualdades perversas. Na saúde, é essencial que o estado promova uma atenção integral fundada em equipes multiprofissionais, sem centrar apenas no médico. Estas devem ser bem treinadas, bem remuneradas e ter uma carreira. Isso já exigiria também uma intervenção na educação, onde escolas médicas, algumas de perfil duvidoso, proliferam. Melhorar condições sanitárias onde há carência também é necessário. Com tantas questões complexas a abordar para ter uma saúde melhor no país, temos sim, mais dúvidas que certezas; com pouco poder individual de nelas intervir, permito-me desejar.
O que mais desejo neste fim de ano é que os médicos, os outros profissionais de saúde e as pessoas que cuidamos avivem em si um espírito que se aproxime mais da solidariedade; que ultrapassem a sua condição de indivíduo e olhem para além de si e do seu núcleo familiar; que a saúde escape desse mercado consumista e seja um bem humano, para não perdermos a condição de pessoas e virarmos também mercadorias.
Maria de Fátima Duques
CRM-PB: 2638
Especialidade: Gastroenterologista