- Início
- Unidades
- Viver Melhor
- Artigos Médicos
- A comida e os afetos
Artigos Médicos
A comida e os afetos
Publicada em 04/09/2015 às 18h
Médicos e nutricionistas têm muitos desafios para enfrentar. Dentre eles, o excesso de peso e a obesidade, que grassam no mundo e também no Brasil, cuja população tem, respectivamente, 49% e 15% incluídos nessas condições. As causas são multifatoriais, relacionadas ao indivíduo, a questões biológicas, econômicas, sociais, culturais e até políticas.
Há um lado, porém, frequentemente esquecido: a correlação das refeições com a memória e os afetos. Para muitas pessoas, isso pode ir para o lado da ingestão tão restrita de alimentos que as leva ao baixo peso, chegando a extremos como na anorexia nervosa (envolvendo neurotransmissores, como na depressão), situação em que pode até ocorrer a desnutrição protéico-calórica.
Mas o pêndulo parece tender para o lado do sobrepeso e obesidade, e as estatísticas mostram dados cada vez mais assustadores, exigindo dos governos atitudes para nortear o consumo desenfreado de comida e, sobretudo, de alimentos com altos teores de açúcar, sal e gorduras saturadas. A isso se acresce o sedentarismo da vida moderna, tudo é motorizado; exercitar-se na rua pode ser perigoso entre nós; academias são caras; o tempo é exíguo; a publicidade de alimentos é incansável; o excesso de álcool (cheio de calorias sem valor nutritivo) é comum.
Comer mais do que precisamos pode compensar as dores emocionais, que suportamos pouco, recorrendo até a medicamentos para evitar a elaboração de sofrimentos naturais da vida. Ressalto que aqui excluo a depressão e as situações orgânicas que merecem abordagens diferentes e, sobretudo, o culto à magreza como chave da felicidade. Refiro-me ao culto excessivo ao prazer e a negação de que somos todos vulneráveis à dor. Refugiar-se na comida, remetendo-nos à memória e aos afetos, pode ser, além de fonte de prazer, um colo reconfortante, mas excessos repetidos têm consequências deletérias; entretanto, a maioria das pessoas ou acha que não os comete ou ilude-se, rejeitando a intervenção dos nutricionistas, profissionais capacitados para tal.
Por mais que haja múltiplos fatores, tornar-se eternamente responsável (parodiando Exupéry em "O Pequeno Príncipe") por si mesmo nessa questão e evitar que crianças caiam nas armadilhas publicitárias alimentares pode contribuir muito para a saúde, nosso maior bem.
Maria de Fátima Duques
CRM-PB: 2638
Especialidade: Gastroenterologista