Artigos Médicos

Diabetes Tipo 1 pré-clínico: triagem e tratamento preventivo

Publicada em 14/01/2025 às 12h18

A incidência de Diabetes Tipo 1 (DM1) está aumentando acentuadamente, o que orienta para a recomendação de um programa de triagem num estágio precoce da doença, ou seja, antes do início dos sintomas. Isso servirá tanto para prevenir a cetoacidose, com toda a sua acentuada sintomatologia e grandes riscos para a sobrevida, como para implementar medidas no sentido de retardar ou mesmo prevenir a afecção. Avalia-se que atualmente mais da metade dos diagnósticos de DM1 em crianças são feitos na presença de cetoacidose. Lamentavelmente, isso se associa a um excesso de mortalidade em relação à população geral, a um impacto neurocognitivo negativo tanto a curto como a médio prazo, e a um maior risco de desequilíbrio glicêmico e de complicações a longo prazo.

Assim é que o estágio clínico da doença – estágio 3 – se caracteriza por grande deficiência de insulina, o que leva ao excesso de glicose em jejum e na pós-alimentação e é precedido por estágios assintomáticos que começam meses ou anos antes. Esses estágios precedentes - 1 e 2 - são caracterizados por uma autoimunidade anti-ilhotas pancreáticas definida pela presença de autoanticorpos que conduzem a um processo de destruição das células beta (produtoras de insulina), levando a alterações da secreção de insulina. Nesse sentido, existem possibilidades de identificar a autoimunidade antes do início dos sintomas e dessa forma detectar a presença de DM1 no estágio pré-clínico. De início, faz-se necessário identificar as pessoas elegíveis para a triagem, ou seja, a população com risco genético, especificamente parentes de primeiro grau de portadores de DM1 (filhos, pais, irmãos e meios-irmãos), e as modalidades práticas a serem feitas.

A identificação de fatores nos estágios pré-clínicos poderá prevenir a cetoacidose inaugural, as hospitalizações prolongadas e a degradação rápida da secreção residual de insulina, que é responsável pela instabilidade glicêmica e um maior risco de complicações. Junto a isso, pode-se corrigir fatores de risco modificáveis (obesidade e sedentarismo) que aceleram a progressão para o estágio 3 e encurtam os períodos de remissão e, com isso, poder estabelecer um tratamento precoce fora da emergência e antecipar as dificuldades de adaptação a doença. Embora não exista uma abordagem de prevenção no sentido restrito (no momento não é possível evitar a progressão para o estágio 3), teria a vantagem de prevenir as muitas complicações de um diagnóstico tardio.

A existência de perspectivas terapêuticas capazes de retardar a progressão robustece os argumentos a favor da triagem. A dados de hoje, uma imunoterapia (peplizumabe, autorizada em 2022 nos Estados Unidos) mostrou em ensaios clínicos uma capacidade de retardar a progressão para o estágio 3 por 2 anos; outras substâncias em estudo têm mostrado benefícios na preservação da secreção de insulina. Segundo a experiência de outros países, a triagem deverá incluir a dosagem de autoanticorpos como anti-insulina, anti-GAD (antiácido glutâmico descarboxilase) e antitirosina fosfatase). Por fim, a existência de perspectivas terapêuticas capazes de retardar a progressão da doença oferece justificativa para que sejam realizadas triagens em pessoas de risco.

João Modesto Filho

João Modesto Filho

CRM-PB: 973 / RQE 1026

Especialidade: Endocrinologista

Mais artigos de João Modesto Filho