Artigos Médicos

Diabetes no idoso

Publicada em 14/06/2024 às 11h58

A população com mais de 75 anos de idade é, por inúmeras razões, bastante heterogênea, até porque as complicações geriátricas podem estar presentes sob diversas formas, como alterações do estado mental, da função física, presença de desnutrição, usualmente polimedicação, comorbidades, entre outras.

A faixa etária com mais de 75 anos representa, em vários estudos, pelo menos um quarto dos pacientes com diabetes Tipo 2 e, por ser uma população heterogênea, acumula complicações tanto do diabetes como da idade. Os objetivos glicêmicos nesses idosos podem não ser semelhantes aos das populações mais jovens, mas não devemos negligenciar a qualidade do equilíbrio glicêmico. No entanto, uma atitude terapêutica muito intensiva em idosos frágeis ou pouco exigente em idosos saudáveis podem ser evitadas, pois cada caso tem suas peculiaridades.

Assim, pela possibilidade e perigo de um tratamento excessivo, algumas recomendações são importantes e pode-se dividir essa população em 3 categorias:

- idosos «saudáveis», bem integrados socialmente e autônomos do ponto de vista da tomadas de decisão e de funcionalidade;

- idosos «frágeis», com um estado de saúde intermediário;

- idosos «dependentes”, e/ou com saúde muito prejudicada devido a uma polipatologia crônica que gera deficiências e isolamento social.

Nesse sentido, os objetivos glicêmicos nestas 3 categorias são diferentes tanto na dosagem da glicemia como na da hemoglobina glicada, com um controle metabólico indo desde o mais restrito ao menos intenso, a depender da condição do idoso.

E ainda é fundamental algumas precauções especiais conforme a medicação utilizada. Assim é que se deve ter atenção quando do uso de Sulfonilureias pelo risco de hipoglicemia (queda do açúcar no sangue). Da mesma forma, ter atenção com o uso de glifozinas (iSGLT2) pela possibilidade de depleção volêmica (tendência a desidratação) e poliúria, bem como pelo risco aumentado de micoses genitais. Já o cuidado com a utilização dos análogos de GLP1 se deve ao risco de anorexia (perda do apetite). Por fim, deve-se atentar para as recomendações quanto à introdução da insulina basal, que muitas vezes é essencial para um melhor controle metabólico nessa população. Nesse sentido, deve-se iniciar com pequenas doses, sendo que a injeção pode ser feita pela manhã ou à noite e com o auxílio da monitoração glicêmica.

Em conclusão, o tratamento de diabéticos idosos requer uma abordagem personalizada e abrangente. O envelhecimento é um processo dinâmico e o controle metabólico deve ser regularmente reavaliado. Dietas restritivas devem ser evitadas, praticar atividade física sempre que houver possibilidades e novos tratamentos podem, sim, ter um lugar desde que tomadas as precauções necessárias.

João Modesto Filho

João Modesto Filho

CRM-PB: 973 / RQE 1026

Especialidade: Endocrinologista

Mais artigos de João Modesto Filho