Artigos Médicos
Diabetes e estresse
Já é bem conhecido o fato de que o estresse é um elemento perturbador do metabolismo e que pode ser importante para os portadores de diabetes. Vários hormônios têm um importante papel nas situações de estresse e podem alterar os níveis de glicose no sangue. Por um lado, o estresse de origem mental em diabéticos do tipo 1 pode elevar ou diminuir a glicemia; por outro, no diabetes tipo 2, o estresse tende apenas a elevar a glicemia. Em situações onde há predomínio do estresse físico (cirurgias ou doenças), a glicemia tende a subir tanto no tipo 1 como no tipo2. Um estudo apresentado recentemente no Congresso Francês de Diabetes pesquisou o sofrimento relacionado ao diabetes, ou o impacto emocional negativo causado pela convivência com a doença.
Para analisar a sensação de estresse, seja proveniente de raiva, esgotamento mental, ansiedade, medo, tristeza etc., foi realizada uma investigação de dados disponíveis on-line, o que representou 820 mil diabéticos de 172 países (41 idiomas) com 34 milhões de tweets relacionados à doença, entre 2017 a 2021. Como o sofrimento associado ao diabetes varia ao longo do tempo, ele deve ser reavaliado frequentemente porque muda de intensidade. Sabe-se que no estresse experimental realizado em laboratório obtém-se estimulação simpática (aumento da pressão arterial, pulso, cortisol, catecolaminas), não havendo impacto no açúcar no sangue. A hipótese é que, durante os experimentos, o estresse é muito curto e não intenso o suficiente para modificar os níveis da glicose. Nesse sentido, o objetivo do estudo foi o de avaliar o impacto do estresse psicossocial crônico nos níveis da glicose sanguínea.
Dessa forma, observou-se que existem vários perfis de resposta ao estresse:
Perfil 1: o estresse aumenta a glicemia (54% dos pacientes). Esses pacientes são sensíveis aos estressores, apresentam nível significativo de estresse e qualidade de vida mediana.
Perfil 2: o estresse reduz o açúcar no sangue (10% dos pacientes). Esses são menos sensíveis aos estressores, apresentam baixo nível de ansiedade, nível médio de estresse e qualidade de vida média.
Perfil 3: o açúcar no sangue, às vezes, aumenta e, às vezes, cai sob o efeito do estresse (25% dos pacientes). Esses pacientes apresentam alto nível de ansiedade, nível médio de estresse e boa qualidade de vida.
Perfil 4: sem alteração da glicemia sob estresse (11% dos pacientes). Esses pacientes não ficam estressados nem preocupados e têm uma qualidade de vida muito boa.
Nesse sentido, houve a sinalização de que o estresse psicossocial crônico induz mais frequentemente hiperglicemia do que hipoglicemia. Assim, dependendo da resposta ao estresse (hipo ou hiperglicemia), a qualidade de vida e o nível de ansiedade são atingidos de forma negativa. Foi observado que a tecnologia não fez desaparecer o sofrimento associado à doença. Por fim, procurar apoio psicológico para minimizar a influência do estresse sobre o controle metabólico é sempre importante.
João Modesto Filho
CRM-PB: 973 / RQE 1026
Especialidade: Endocrinologista