Artigos Médicos
Dia Mundial do Meio Ambiente: Microplásticos e saúde
Microplásticos são partículas que têm menos de 5 milímetros de extensão e estão se tornando motivo de grande preocupação em todo o mundo, particularmente no que diz respeito à saúde humana. É importante salientar que o Brasil é um dos maiores produtores de lixo plástico do mundo (quarto colocado) e recicla apenas 1.2% do total gerado. Os microplásticos são encontrados nos oceanos, no estômago de animais marinhos, na agua potável e até mesmo no corpo humano. Partículas extremamente pequenas são capazes de atravessar a barreira gastrointestinal e já foram detectadas no sangue humano de doadores saudáveis, no trato gastrointestinal, no fígado, nos pulmões, na placenta, em células do sistema nervoso, nas fezes humanas, etc.
Em nível hepático, foram detectados em fígados cirróticos em concentrações significativamente mais altas quando comparadas com amostras de fígado de pessoas sem doença hepática. Entretanto, não se tem uma resposta definitiva se o acúmulo hepático de microplásticos é uma causa potencial na fisiopatologia da fibrose ou é apenas uma consequência da cirrose e da hipertensão portal. Estudos anteriores já demonstravam que concentrações de microplásticos eram significativamente maiores nas fezes de crianças que consumiam mais de 300 g de laticínios por dia. Por seu turno, fezes de crianças que usavam mamadeiras de silicone continham mais microplásticos do que aquelas que usavam mamadeiras de vidro.
Por outro lado, pesquisas em animais mostraram que camundongos expostos aos microplásticos desenvolviam disbiose intestinal, incluindo alterações na diversidade microbiana, diminuição relativa de próbioticos e aumento de bactérias patogénicas. Um outro estudo em crianças mostrou que quando a composição da microbiota foi determinada pelo sequenciamento do RNA ribossomico 16S, microplasticos foram detectados nas fezes de 59 delas (de 3 a 6 anos) de um total de 69. O cloreto de polivinila (PVC) foi o plástico mais frequentemente detectado (76.8%), enquanto o tereftalato de polietileno (ET) foi encontrado em 27.5%, o polietileno (E) em 24.6% e o poliamida 6 (PA6) em 4,3% das amostras das fezes. Esses estudos se somam a outros que demonstram a grande preocupação que existe com a contaminação do ecossistema por microplásticos.
Estudos atuais com microscopia eletrônica deverão lançar novas luzes e atestar um possível acúmulo dessas micropartículas em outros órgãos. O impacto dos micro e até dos nanoplásticos na saúde humana continua a ser determinado através de pesquisas mais aprofundados sobre a cadeia alimentar e com novas metodologias. Já é fato bem conhecido que microplásticos são encontrados no ar que respiramos, nos alimentos que consumimos e na água que bebemos e, por isso, organizações internacionais defendem que os governos adotem iniciativas para contenção da poluição por plásticos. Para tanto, faz-se necessário uma maior utilização de plásticos reutilizáveis, investimentos em pesquisas para se chegar a um protocolo global e incentivo para mudanças de hábitos da população, reduzindo a quantidade de plástico consumido e o lixo gerado por cada um. Assim, todos precisam dar a sua contribuição.
Dr. João Modesto Filho
Médico CRM PB 973
Endocrinologista RQE 1026
João Modesto Filho
CRM-PB: 973 / RQE 1026
Especialidade: Endocrinologista