Artigos Médicos
Bebidas açucaradas, diabetes e doenças cardiovasculares
Estudo publicado na Revista “Nature Medicine” há algumas semanas e realizado pela Universidade de Tufts, Estados Unidos, mostrou que bebidas açucaradas foram responsáveis por 9.8% de Diabetes Tipo 2 e 3.1% de doenças cardiovasculares no ano de 2020. Embora forneçam calorias, essas bebidas contêm excesso de açúcar, que é adicionado pela indústria e, fato já bem conhecido, consumir esse tipo de bebida aumenta o risco não só de Diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, mas também de obesidade, doenças cerebrovasculares (AVC), doenças osteomusculares, insuficiência renal, demência, asma e câncer, tanto de forma direta ou indireta. As bebidas mais comuns desse tipo são refrigerantes, sucos industrializados, chás ultraprocessados e as bebidas energéticas.
Dados do Ministério da Saúde do Brasil apontam que as doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes no país, o Diabetes causou mais de 750 mil óbitos entre 2010 e 2021, enquanto quase 13 mil adultos morrem por ano devido ao consumo excessivo dessas bebidas. O estudo compilou dados de 450 inquéritos alimentares, abrangendo 2.9 milhões de pessoas de 118 países, o que representou 87.1% da população mundial. Foi observado que, em 2020, o consumo médio global de bebidas açucaradas foi em torno de 616 ml, ou seja, mais de meio litro. Dados obtidos de 30 países mais populosos mostrou que os maiores níveis de consumo foram na Colômbia (4,1 litros por semana), África do Sul (2,3 l), México (2 l) e Etiópia (1.6 l). Já os menores consumos foram vistos na Índia, China e Bangladesh.
Estimaram assim que, numericamente, esses hábitos alimentares contribuíram para o aparecimento de 2.2 milhões de novos casos de Diabetes tipo 2 e 1.2 milhão de novos casos de doenças cardiovasculares em todo o mundo. Quanto à mortalidade, avaliam em 340.000 as mortes devidas a DM2 e DCV decorrentes da associação de bebidas açucaradas. O estudo também apontou que o consumo dessas bebidas foi mais elevado nas populações urbanas mais instruídas da África Subsaariana, do Sul da Ásia e da América Latina.
Por outro lado, o estudo também sinalizou para uma tendência na diminuição do consumo na América Latina e no Caribe, resultado esse possivelmente ligado a políticas de saúde pública eficazes, tais como impostos sobre refrigerantes, restrições à publicidade e rótulos que informam aos consumidores sobre os perigos dos produtos com elevado teor de açúcar. Assim, a prevenção é essencial porque os sistemas de saúde de um modo geral não serão capazes de lidar com o aumento de doenças crônicas de grande morbi-mortalidade ligadas a esses péssimos hábitos alimentares.

João Modesto Filho
CRM-PB: 973 / RQE 1026
Especialidade: Endocrinologista