Artigos Médicos
Alimentação paterna influencia na saúde do filho
A obesidade tem se tornado um dos maiores problemas de saúde pública em todo o mundo, atingindo todas as faixas etárias. Nesse sentido, a obesidade infanto-juvenil é motivo de preocupação pelo grande aumento que vem sofrendo nas últimas décadas. Um cuidadoso artigo da revista médica “The Lancet” mostrou que, em pouco mais de 30 anos, a taxa de obesidade mais do que duplicou em adultos e quadruplicou entre crianças e adolescentes. Na relação da obesidade entre pais e filhos, muitos estudos evidenciam aspectos importantes, como ao demonstrar que uma dieta muito rica em gordura altera o metabolismo do pai. Como consequência, temos alterações chamadas epigenéticas (mudanças na atividade genética que não envolvem alterações na sequência do DNA) nos espermatozoides e que irão influenciar no metabolismo do futuro embrião.
Recente estudo alemão da Universidade de Leipzig e do Centro Alemão de Pesquisa Helmholtz Zentrum Munchen, publicado na revista “Nature”, mostrou essa relação, ou seja, está ficando cada vez mais evidente que a saúde do pai, sob diversas formas, pode ter consequências na saúde dos filhos. No sentido de subsidiar este fato, foi realizado estudo em ratos os quais foram alimentados com uma dieta muito gordurosa durante um período de duas semanas. Isto foi o suficiente para causar aumento significativo do peso corporal, na proporção de gordura no corpo, bem como um início de intolerância à glicose, uma condição que precede o diabetes tipo 2. No entanto, as capacidades reprodutivas desses ratos não foram afetadas pela dieta demasiadamente gordurosa. E, ainda, quando se acasalavam com ratas saudáveis (e alimentadas normalmente), seus filhotes mostravam uma maior probabilidade de intolerância à glicose, apesar do peso corporal e da dieta normais.
Tal resultado se ajusta àqueles encontrados em famílias humanas com pais obesos e mães magras, onde as crianças estão em maior risco de desenvolver diabetes do que quando nenhum dos pais tem problemas de peso. É certo que temos múltiplos fatores envolvidos no aumento da obesidade e, por ser a alimentação uma das maiores responsáveis, existe preocupação de como alimentar de forma saudável as prováveis 10 bilhões de pessoas que deveremos ter em 2050. O cenário atual mostra que quase dois bilhões de pessoas estão “superalimentadas” enquanto um bilhão sofre de desnutrição. Falta de frutas, verduras e cereais é uma constante, da mesma forma que bebidas açucaradas, carnes processadas e excesso de sal também são. Esses itens, somados a um estilo de vida sedentário, realçam a importância de mudanças sanitárias porque o que temos como certo é que uma alimentação errada é o principal fator de risco de morte prematura em todo o mundo. Desse modo, a sinalização de que a má alimentação do pai repercutirá negativamente no desenvolvimento do filho torna-se um importante fator a ser colocado nas orientações higienodietéticas junto à família e à sociedade em geral.
João Modesto Filho
CRM-PB: 973 / RQE 1026
Especialidade: Endocrinologista