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O que mata mais o homem: o câncer ou o preconceito?

Publicada em 21/11/2014 às 17h

O câncer da próstata é uma das principais preocupações das consultas urológicas. É uma doença exclusivamente masculina, sendo o tumor mais comum, exceto o câncer de pele. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, 1 em cada 6 homens acima de 45 anos pode desenvolver este câncer.

Nos últimos 25 anos, o diagnóstico da doença viveu uma verdadeira revolução, devido à descoberta do "antígeno prostático específico" ou PSA, que tornou-se importante marcador sanguíneo da possível presença do tumor. Normalmente, o PSA em homens acima de 50 anos sem doença urológica deve estar abaixo de 4,0 ng/ml. Já naqueles com menos de 50 anos, é considerado normal um PSA abaixo de 2,5 ng/ml.

A melhor forma de se detectar o câncer de próstata é representada pela combinação de toque retal e PSA, já que a execução conjunta tem uma baixa taxa de falha, sendo menor de 5%.

O aumento geral observado na incidência do tumor de próstata, que vem ocorrendo, pode estar relacionado à melhoria nas técnicas diagnósticas, à melhoria no sistema de coleta e ao registro de dados de câncer, além do aumento da expectativa de vida do brasileiro.

Já o risco de incidência do tumor ativo vai aumentando à medida em que a idade avança: com 50 anos, o índice é baixo; com 60, sobe um pouco mais; e a partir de 70, torna-se muito presente. Considerando essa projeção, se os homens chegassem aos 120 anos, todos teriam câncer de próstata. Portanto, o câncer de próstata é considerado da 3ª idade, visto que 3/4 dos casos ocorrem a partir dos 65 anos.

Um dos temas mais discutidos nos últimos congressos foi justamente a partir de que idade o rastreamento pelo PSA deve ser adotado para o diagnóstico do câncer de próstata. Atualmente, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que para homens até 75 anos e com perspectiva de vida longa, sugere-se que esse exame seja feito anualmente, junto com a visita ao urologista. Em homens jovens (abaixo de 50 anos), a avaliação é indicada quando existe fator de risco, como história familiar. Nesses casos, o rastreamento é bem indicado e deve ser feito regularmente a partir dos 45 anos, para diagnosticar precocemente o tumor, uma vez que esse indivíduo geralmente apresenta câncer mais agressivo. O mesmo vale para homens negros, que apresentam maior propensão a esse tipo de tumor em comparação à população branca, além de apresentarem tumores mais agressivos.

Para indivíduos de maior idade, sobretudo quando apresentam comorbidades, como diabetes, hipertensão ou doenças cardíacas, a indicação terapêutica deve ser ponderada, pois o prognóstico de vida com qualidade se torna mais limitador, mesmo destacando que as modalidades clássicas de tratamento, como a cirurgia radical e a radioterapia, evoluíram muito nas últimas décadas, possibilitando tratamentos otimizados com menores efeitos colaterais e excelentes resultados.

A adoção de hábitos saudáveis é uma forma de se prevenir em relação às doenças em geral, aí podendo se incluir o câncer de próstata, tais como comer adequadamente, controlar o peso, beber com moderação, limitar o uso de açúcar e sal, não fumar e praticar exercícios físicos. Em geral, recomenda-se uma dieta com baixos níveis de gordura animal, rica em fibras, frutas, vegetais e grãos. Em síntese, uma vida saudável continua sendo a melhor forma de nos prevenirmos contra esta doença tão prevalente na sociedade.

O preconceito com o exame de toque retal ainda é forte no Brasil e mais ainda no nosso estado, onde o câncer de próstata, infelizmente, lidera o ranking de mortalidade por neoplasia nos homens. É tanto que apenas 32% dos homens brasileiros já declararam ter feito o exame. E ainda pior: quase 50% dos brasileiros nunca foram ao urologista e, até o fim de 2014, a projeção é que 12 mil morrerão vítimas da doença, em função da descoberta em estágio avançado.

Em conclusão, cabe ao urologista a avaliação do paciente para rastreamento do câncer de próstata, o que inclui toque retal e PSA. Além disso, outros fatores estão envolvidos nessa avaliação, o que a torna quase que uma decisão individualizada e baseada sempre em uma boa relação médico-paciente.

Temos a nobre missão de orientar a população masculina a cuidar melhor da saúde e procurar o médico com mais frequência e, principalmente, motivar os homens a fazer exames preventivos.

Vamos combater o preconceito! Promover e cuidar da saúde, melhorando nossa sociedade.

 

 

Jarques Lúcio

Jarques Lúcio

CRM-PB: 6161

Especialidade: Urologia

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