Cada dia, fico mais triste com o pouco caso que as políticas públicas têm dado à infância e à adolescência. É tudo feito para dizer que tem, mas, na realidade, parece a casa de doces da bruxa do conto "João e Maria". Sem final feliz. Boa parte dos transtornos é de origem social, ou seja, está na família. Se a criança e o adolescente têm uma pré-disposição genética, desenvolve depressão, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), etc.

A invenção da infância é recente. Faz parte da revolução industrial. Antes, não havia separação entre idades. A criança era um adulto pequeno e o adolescente já casava, ia para a guerra e assumia responsabilidades. A mortalidade infantil era muito elevada. O conto João e Maria reflete essa realidade: jogar na floresta os filhos, porque não havia como alimentá-los. A casa de doces da bruxa era uma alegoria da mortalidade infantil.

No século XX, a psiquiatria infantil começa a desenvolver-se e a patologização começa a entrar no universo infanto-juvenil: depressão, fobias, autismo, bipolaridade, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Agora, as drogas ilícitas. Criança não que saber mais de doces, mas de crack, óxi e sexo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2050, a previsão é de que 100% das crianças tenham algum tipo de transtorno; e a família nuclear que a criou, desaparecerá.

A casa de doce é uma bula de remédio, a bruxa é um traficante, e João e Maria, movidos pela patologia "rivalidade entre irmãos". Em época de individualismo, cada um por si. Ainda corremos o risco de ver João e Maria sofrer abuso sexual de parentes, ou bullying na escola. Talvez escapem da casa de doces para uma clínica psiquiátrica.

A bruxa oferece agora muitos psicotrópicos e os pais, sem querer ter trabalho, ajudam a bruxa. Mas, sabem que é melhor uma sertralina (medicamento utilizado no tratamento da depressão), uma risperidona (antipsicótico), do que a pedra e o pó. Destino para os que não se tratam.