E você, como dormiu hoje? A resposta pode não ser muito agradável para milhares de pessoas que têm problemas com o sono nas diferentes etapas da vida. Sem um sono revigorante, o dia das pessoas fica insuportável. Esse é o caso da cabeleireira Karla Patrícia de Luna Santos, 38 anos, que mora no Bessa, mãe de um adolescente. Ela não dorme bem desde os 20 anos.
"Quando vai anoitecendo já fico angustiada. Enquanto todo mundo se prepara para dormir, meu tormento começa. Todos os dias, só consigo pegar no sono depois das duas da manhã. Acordo cansada e, geralmente, de mau humor", contou Karla Patrícia. Por causa do problema, ela só começa a trabalhar depois das 10h. "Isso acaba comprometendo meu serviço no dia a dia", ressaltou.
Assim como a cabeleireira, 45% da população mundial têm dificuldades para dormir, de acordo com a Associação Mundial de Medicina do Sono.
As dificuldades para adormecer podem levar a inúmeros problemas de saúde como hipertensão, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, diabetes.
Além disso, noites sem descanso podem reduzir o estado de alerta das pessoas, provoca falta de concentração, queda de produtividade no trabalho e na escola e, até mesmo, acidentes automobilísticos.
O otorrinolaringologista Josemar dos Santos Soares, que trabalha com medicina do sono, alertou para os distúrbios do sono e orientou sobre o que fazer para dormir bem. "O sono é fundamental para o equilíbrio das funções orgânicas e , quando irregular, favorece as doenças, assim como ao desequilíbrio comportamental e comprometimento no trabalho", disse o médico.
Segundo ele, atualmente, os otorrinolaringologistas têm se interessado cada vez mais nas pesquisas que abordam as alterações no sono. Tanto que a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ARBOL) tem elaborado projetos para conscientizar a população sobre a necessidade de se ter uma boa qualidade de sono para uma vida saudável.
A dificuldade para dormir já é vista como uma epidemia mundial. Por isso, este mês de março, quando se comemora o Dia Mundial do Sono, estão sendo realizadas em vários países ações para conscientizar a população sobre os problemas e cuidados com o sono. No Brasil, as atividades para comemorar o dia do sono são feitas entre os dias 13 a 21 de março.
DISTÚRBIOS
Ente os distúrbios do sono mais comuns na população, o otorrinolaringologista Josemar Soares destacou quatro: apnéia e hipoapnéia do sono, a interrupção completa do fluxo de ar através do nariz ou da boca por um período de pelo menos dez segundos ou uma redução desse fluxo; a insônia, dificuldade em iniciar ou manter o sono; os distúrbios do ritmo circadiano, alterações dos horários "normais" do sono de nosso relógio (acometem mais os trabalhadores noturnos) e a sonolência excessiva.
Os sintomas costumam variar muito de um distúrbio para o outro. O especialista disse que as principais queixas das pessoas que sofrem de distúrbios do sono são insônia, sonolência diurna, fadiga diurna, disfunção cognitiva, alteração de humor, cefaléia, roncos, depressão e ansiedade. Associado a tudo isso, há ainda um agravante: o abuso de medicamentos para dormir, muitas vezes usados sem a orientação médica.
"O fato do distúrbio do sono ser uma doença crônica, culminando com o comprometimento respiratório e oxigenação, contribui e agrava um conjunto de doenças metabólicas e cardiológicas, que demandam gastos com a saúde", afirmou Josemar Santos, que apontou entre as doenças o diabetes, a insuficiência coronariana, cardiopatia congestiva, infarto do miocárdio e hipertensão arterial.
Nos distúrbios do sono estão associados a sonolência excessiva (quando a pessoas possui dificuldade para se manter acordada durante o dia), a queda de produtividade, a diminuição de concentração e memória, os riscos de depressão e até de conflitos conjugais.
Os acidentes de trânsito e de trabalho também estão na lista dos problemas que ocorrem devido a esses distúrbios. Para a organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 20% da população desenvolve suas atividades fora dos horários convencionais, o que contribui para desencadear esse problema. A incidência de acidentes de trabalho em turnos rotativos, por exemplo, é bem maior que em turno diurno.
Já a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) estima que cerca de 1 milhão de acidentes/ano no Brasil, entre 60 e 80 mil podem ser causados por condições físicas do motorista vinculadas ao sono inadequado e a fadiga.
Para se ter uma ideia, a capacidade mental, que envolve a habilidade de raciocinar, planejar e resolver problemas, reduz em 25% no estado de privação de sono, o que pode trazer prejuízos incalculáveis para as pessoas.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O tempo de sono varia de pessoa para pessoa. A média para os adultos é de 8 horas de sono, mas alguns se contentam com seis horas. Portanto, dormir menos que isso ou ter um sono agitado podem um alerta.
Procurar ajuda de um médico especialista em distúrbios do sono (medicina do sono) para realizar o correto diagnóstico, é o primeiro passo para quem tem dificuldade em dormir ou tem um sono agitado.
"Em caso de suspeita do distúrbio do sono, o paciente será avaliado pelo especialista por meio de questionários que abordam as queixas e analisadas as causas e o grau de comprometimento do problema", disse o otorrinolaringologista, que aproveitou para dar alguns conselhos de como ter um bom sono e garantir saúde, bem-estar e qualidade de vida.
DICAS PARA DORMIR BEM
• Antes de tudo, durma em um local confortável, fresco, escuro e silencioso. As alterações de ruído, de luz e de temperatura podem atrapalhar o sono;
• Prepare-se para dormir. Crie seus próprios rituais como a meditação, o relaxamento, a oração ou outra técnica de controle da tensão. Anote em um caderno todos os seus problemas antes de dormir;
• Pratique exercícios regularmente, pois isso melhora as condições do organismo. Mas procure fazer ginástica até duas horas antes de se deitar;
• Faça apenas refeições leves à noite - tenha uma dieta equilibrada;
• Use a cama apenas para dormir, pois outras atividades podem favorecer a hábitos desfavoráveis ao sono.