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Hidrocefalia pode ser tratada através da neuroendoscopia

Publicada em 06/02/2007 às 09h47

Christian Diniz, médico da Unimed JP Christian Diniz, médico da Unimed JP

Com uma incisão de apenas 1,5 centímetro na região frontal do crânio, já é possível tratar a hidrocefalia, problema provocado pelo excesso de água no cérebro. A informação é do neurocirurgião Christian Diniz Ferreira, cooperado da Unimed JP.

 

O médico explicou que, através da minúscula incisão, é feito um pequeno orifício no ventrículo que fica na parte mais baixa do cérebro e, por esta nova abertura, o excesso de líquido encontrará uma saída alternativa. Isto faz baixar a pressão intracraniana.

 

De acordo com Christian Ferreira Diniz, o procedimento tem êxito superior a 90% e já se tornou o tratamento de eleição em centros com a tecnologia disponível. "A sua principal vantagem é a resolução da hidrocefalia obstrutiva sem colocação de válvulas, material estranho ao corpo que comumente complica com obstrução, infecção e mau-funcionamento", explicou. Segundo ele, por causa destas complicações, freqüentemente o neurocirurgião precisa revisar as válvulas, submetendo os pacientes a novo procedimento cirúrgico-anestésico.

 

O tema foi abordado domingo (4) na seção Consultório Médico da Coluna Unimed Saúde, que é publicada nos jornais Correio da Paraíba, O Norte e Jornal da Paraíba. Por uma questão de espaço, o artigo teve que ser resumido. Leia abaixo a íntegra:

 

CONSULTÓRIO MÉDICO

 

Neuroendoscopia no tratamento da hidrocefalia

 

No interior do cérebro, existem espaços chamados de ventrículos - cavidades naturais que se comunicam entre si e são preenchidas pelo líquido cefalorraquidiano ou simplesmente liquor, como também é conhecido. O termo hidrocefalia refere-se a uma condição na qual a quantidade de liquor aumenta dentro da cabeça. Este aumento anormal do volume dilata os ventrículos e comprime o cérebro contra os ossos do crânio, provocando uma série de sintomas que devem ser rapidamente tratados para prevenir danos mais sérios. Muitas vezes, a hidrocefalia pode ser detectada antes mesmo do nascimento, quando se emprega o exame de ultra-som no acompanhamento da gravidez.

 

A hidrocefalia ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção e a reabsorção do líquido cefalorraquidiano. A condição mais comum é uma obstrução (hidrocefalia obstrutiva) da passagem do liquor, seja por prematuridade, cistos, tumores, traumas, infecções ou uma má-formação do sistema nervoso como a mielomeningocele. Em casos raros, a hidrocefalia é causada pelo aumento da produção.

 

Nas crianças pequenas (abaixo de 2 anos), os ossos do crânio ainda não estão soldados. A cabeça cresce e a fontanela (moleira) pode estar tensa ou mesmo abaulada. O couro cabeludo parece esticado e fino e com as veias muito visíveis. Palpando-se a cabeça, é possível perceber um aumento do espaço entre os ossos do crânio. A criança pode parecer incapaz de olhar para cima, com os olhos sempre desviados para baixo, podendo ainda apresentar vômitos, irritabilidade, sonolência e convulsões.

 

Nas crianças maiores (acima de 2 anos), como os ossos já se soldaram, o excesso de liquor levará a um aumento da pressão intracraniana o que pode ocasionar cefaléia, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, incoordenação motora, alterações na personalidade e dificuldade de concentração. Outro sinal comum é uma piora gradual no desempenho escolar. Tais sintomas exigem avaliação médica imediata. Se houver alargamento dos ventrículos cerebrais, ele poderá ser facilmente observado por ultra-sonografia.

 

O tratamento geralmente é a instalação de um tubo flexível (válvula) que drenará o excesso de líquido do sistema ventricular. Este tubo possui duas extremidades: uma é colocada dentro do ventrículo cerebral; a outra pode ser inserida dentro do abdome ou do coração, reduzindo a pressão interna dos ventrículos cerebrais.

 

Atualmente, está disponível um procedimento chamado ventriculostomia, feito por neuroendoscopia, procedimento minimamente invasivo. Com uma incisão de apenas 1,5 centímetro na região frontal do crânio, é feito um pequeno orifício no ventrículo que fica na parte mais baixa do cérebro e, por esta nova abertura, o excesso de líquido encontrará uma saída alternativa, fazendo baixar a pressão intracraniana.

 

Com o advento da neuroendoscopia, as hidrocefalias obstrutivas passaram a ser tratadas por via endoscópica, tornando-se este o tratamento de eleição em centros com a tecnologia disponível, com êxito superior a 90%. A sua principal vantagem é a resolução da hidrocefalia obstrutiva sem colocação de válvulas, material estranho ao corpo que comumente complica com obstrução, infecção e mau-funcionamento, levando, freqüentemente, o neurocirurgião a revisá-las, submetendo as crianças a novo procedimento cirúrgico-anestésico. A estatística francesa (Saint Rose et al-1998) mostra que em 10 anos, 95 % das crianças necessitam de pelo menos uma revisão da válvula.

 

Devemos olhar o futuro com esperança. A ciência médica é um campo em constante desenvolvimento. Contamos hoje com soluções com as quais sequer sonhávamos no passado. Quando encontramos desafios, descobrimos não somente nossa força, mas também nossa grande capacidade para amar, elemento terapêutico fundamental que se alia à ciência para o sucesso do tratamento de nossas crianças.

 

Christian Diniz Ferreira - Neurocirurgião - CRM 6197