Sensação de dias mais curtos e com o relógio sempre cobrando agilidade. Muita gente anda achando que o tempo passa rápido demais e que têm que se esforçar para não ficar para traz, seja com os assuntos de política, do trabalho ou mesmo com aquele filme ou série que estreou recentemente. Mas, é preciso cuidar da saúde como prioridade.

A gastroenterologista Fátima Duques, médica cooperada da Unimed João Pessõa, diz que não acredita em receitas prontas para uma qualidade de vida adequada, pois cada pessoa tem que achar seu caminho. “Mesmo tendo uma ‘vida corrida’, encontrar nem que seja um tempo mínimo para dedicar-se a alguma atividade prazerosa é essencial”, afirma.

Procurar cultivar boas relações com as pessoas ao seu redor é outra recomendação da médica, que citou uma frase do escritor Guimarães Rosa que se encaixa bem em seu conselho: "Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura". Para ela, só isso já pode trazer muita alegria e, por consequência, mais saúde.

CORPO E MENTE

A psicóloga Alana Meireles, coordenadora do setor de psicologia do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, diz que não há segredos para uma vida saudável. “Sem uma boa regulação da intensidade do trabalho e uma distribuição do tempo em sua rotina, por mais produtiva que seja, a pessoa sucumbirá diante da desarmonia física e psicológica”, afirma. Segundo ela, para que isso não aconteça, é fundamental dispor de tempo para atividades de lazer, exercício físico e para as relações humanas.

Mesmo que reconheçamos que a competitividade atualmente é alta, desde muito cedo, o cuidado com a saúde física, social, mental e emocional é pré-requisito para se viver bem. “Antes de pensar em atender as consagradas ‘demandas do mercado’, não podemos esquecer-nos de atender às nossas exigências pessoais: vida familiar e social, fortalecimento da saúde, divertimento e alguma atividade mental livre de pressões”, finaliza.

CONVERSA AFINADA

Em uma conversa franca, a médica Fátima Duques fala sobre os desafios de viver em um ritmo frenético. Confira o que a profissional pensa sobre isso:

• Por que as pessoas vivem num ritmo tão frenético e se sentem sempre atrasadas?

  Acho que há dois motivos que fazem com que as pessoas tenham uma vida muito frenética: o primeiro é que estamos vivendo numa sociedade de consumo, e para consumir precisa se gastar dinheiro, mas antes, é preciso ganhá-lo. Em geral, as pessoas precisam trabalhar muito para atender às suas necessidades de consumo, que vão além do básico. O segundo é que as solicitações de todas as ordens são muitas, para atendê-las gastamos muito tempo e vivemos correndo atrás dos compromissos. Por isso, estamos literalmente com o relógio no nosso encalço.

• Os dias estão mais curtos. Isso é verdade?

  O tempo é algo muito relativo, se temos compromissos demais o dia fica curtíssimo. Já não há mais rotinas tranquilas, a maioria das pessoas tem coisas demais a fazer, até os mais velhos enchem tanto o dia que tornam a vida sôfrega, mesmo quando não precisam mais garantir a subsistência, como os jovens.

• Os momentos em família, com amigos, e prazerosos de modo geral, parecem escorrer entre os dedos, enquanto tarefas e trabalho sobram. Como mudar isso?

  É muito difícil, pois não é fácil dar conta da sobrevivência e, sobretudo, do consumo desenfreado. Consumimos em geral bem mais do que precisamos. Claro que se alguém é muito pobre precisa, às vezes,  fatigar-se para sobreviver. Mas há gente que deixa a convivência e vende seu tempo apenas com vistas a adquirir bens de consumo, muitas vezes, supérfluos. Deixando de lado os bens mais preciosos: família e amigos.

• Como podemos fazer para que os dias tenham mais a oferecer às nossas vidas?

  Suponho que seja bom estabelecer algumas prioridades. Hoje há opções demais e passamos por elas muito superficialmente. Talvez concentrar-se melhor no que precisamos ou desejamos muito possa trazer mais prazer.

• Não ter tempo para nós mesmos afeta nossa saúde física?

  Não tenho a menor dúvida disso! O adoecimento é muitas vezes ligado ao modo de viver. Não ter tempo nos impede até mesmo de refletir sobre a vida.