As inúmeras alterações encontradas na voz estão determinando a possibilidade de diagnosticar várias doenças. O uso da voz não é novo no campo da saúde. Já existem pesquisas bem conduzidas mostrando sua relevância para o diagnóstico e acompanhamento de pacientes com doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.
Em 2021, foi iniciado o Programa Colive Voice, que é um projeto ambicioso na encruzilhada dos mundos da saúde e da inteligência artificial (IA), com base no Instituto de Saúde de Luxemburgo. Esse estudo quer estender o uso da voz para pesquisar outras patologias como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e mentais, procurando desenvolver estudos sobre “biomarcadores” passíveis de serem rastreados e ligados a smartphones, o que poderá personalizar o tratamento. Uma doença como diabetes pode impactar órgãos como coração, pulmões e cérebro, setores orgânicos sabidamente envolvidos na produção da voz, afetando a forma como se fala.
O Programa Colive Voice avalia características de voz que podem ser identificadas em amostras por técnicas de IA. Isso vai desde o mais óbvio, como o fluxo de fala ou o poder da voz, até pequenas variações, imperceptíveis ao ouvido humano. Assim é que a IA poderia identificar pequenas modulações vocais que revelariam patologias crônicas ou sintomas incipientes.
O objetivo do Colive Voice é o de procurar integrar um algoritmo capaz de detectar “biomarcadores de voz” em dispositivos médicos, até mesmo em aplicativos para smartphones, permitindo a triagem de diabetes ou o acompanhamento médico de pacientes deprimidos, isso de forma não invasiva e indolor. Será assim possível acompanhar diariamente um portador de doença mental, através de um aplicativo, quando não houver a necessidade premente de uma consulta.
Por seu turno, entre as manifestações clínicas da doença de Parkinson, os distúrbios de voz ocorrem particularmente cedo na doença. Nesse sentido, um smartphone em breve será capaz de saber, gravando a sua voz, se você está doente com Parkinson, ou mesmo com outras afecções como Alzheimer, diabetes, depressão etc. O desenvolvimento de IA com suas incontáveis conexões torna esse cenário cada vez mais provável. É fato que a IA é um campo da ciência cujo propósito é estudar, desenvolver e empregar máquinas para realizarem atividades humanas de maneira autônoma. Na medicina, a IA tem sido celebrada pela sua alta capacidade de analisar dados e auxiliar no diagnóstico de doenças e na recomendação de tratamentos. De posse dessas ferramentas, o médico poderá utilizar a voz do paciente para diagnóstico, prevenção, monitorização remota de diversas doenças crônicas e mesmo monitorar a saúde mental de pacientes com estresse, ansiedade etc. Por fim, essa nova ferramenta abre grandes perspectivas para a realização de exames em larga escala e para o desenvolvimento da telemedicina com o emprego da IA.
João Modesto Filho
Endocrinologista
CRM-PB 973 / RQE 1026